(POR) Os 5 Segredos do Porto de Aberdeen: As Histórias de Hong Kong que Nunca Ouviu

Aberdeen é muito mais do que um porto pitoresco. É um arquivo vivo da identidade de Hong Kong — da luta dos Tanka pela cidadania à fé pragmática dos seus marinheiros, da lenda dos piratas à complexa realidade da sua modernização.

(POR) Os 5 Segredos do Porto de Aberdeen: As Histórias de Hong Kong que Nunca Ouviu
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Quando olhamos para o porto de Aberdeen e para a vizinha Ap Lei Chau, a imagem é de um dinamismo moderno. Iates de luxo reluzem ao sol, atracados ao lado de navios contemporâneos, e o som dos motores preenche o ar. É uma paisagem de prosperidade e movimento, um cartão-postal do século XXI de Hong Kong.

Mas o que aconteceria se lhe disséssemos que esta fachada esconde séculos de histórias profundas e surpreendentes? Por baixo do brilho dos iates e da sombra dos arranha-céus, existem narrativas de identidade, comunidade e sobrevivência que moldaram não apenas este porto, mas a própria alma de Hong Kong.

Este artigo pretende revelar cinco dessas narrativas históricas. Prepare-se para descobrir os segredos que irão mudar para sempre a forma como vê este icónico porto.

De "Povo Desprezado" a Cidadãos: A Libertação dos Tanka

A história de Aberdeen é, antes de mais, uma história sobre o chão que se pisa — e sobre o direito a pisá-lo. Durante a Dinastia Qing, o povo Tanka (蜑民), que vivia exclusivamente na água, era considerado uma "casta desprezada" (賤民戶籍), sofrendo uma profunda discriminação social e sendo-lhe negados os mesmos direitos que os residentes em terra.

O ponto de viragem ocorreu em 1729, quando o Imperador Yongzheng emitiu um édito que mudou o curso da história, concedendo-lhes legalmente o estatuto de "povo bom". As suas palavras foram revolucionárias:

"蜑戶本屬良民,無可輕賤擯棄之處" (As famílias Tanka são originalmente um povo bom, não há razão para as desprezar ou abandonar).

No entanto, a lei escondia uma cruel ironia. O édito continha uma condição: a liberdade de viver em terra estava reservada apenas àqueles que tivessem meios para o fazer. Como o decreto especificava, "如有力能建造房屋...准其...居住" (Se tiverem meios para construir casas... estão autorizados a... residir). A esmagadora maioria, empobrecida por séculos de marginalização, não tinha essa capacidade. Ficaram legalmente livres, mas economicamente presos aos seus barcos.

Jóia Escondida: A verdadeira "chegada a terra" em massa só aconteceu séculos mais tarde, após a Segunda Guerra Mundial, impulsionada por grandes incêndios nos barcos-casa e por programas governamentais de realojamento. O marco físico desta mudança é Yue Kwong Chuen (漁光邨), o primeiro grande complexo de habitação pública construído especificamente para os pescadores. Quando estiver em Aberdeen, procure estes edifícios. Eles não são apenas betão; são monumentos silenciosos de uma luta de séculos pela dignidade e pela terra firme. Mas a vida em terra era uma nova realidade; a memória da vibrante cidade que flutuava nas águas ainda ecoava no porto.

A "Mona Lisa" Aquática: O Ecossistema Perdido do Porto

Consegue imaginar uma cidade inteira a flutuar? Antes da década de 1970, o porto de Aberdeen era precisamente isso: uma metrópole aquática autossuficiente, descrita como uma "versão aquática da pintura 'Ao Longo do Rio Durante o Festival Qingming'". A vida desenrolava-se num ecossistema complexo de barcos especializados.

  • Os barcos-casa (住家艇) eram as residências flutuantes onde as famílias viviam.
  • O comércio era móvel: barcos de mercearia (雜貨艇) vendiam bens essenciais, barcos de lenha (木柴小艇) forneciam combustível e até barcos de gelados (雪糕艇) navegavam pelas águas.
  • Os barcos de noodles (粉艇) serviam refeições quentes, dando origem ao famoso prato local que ainda hoje existe.
  • A vida social florescia nos barcos-banquete (歌塘船), usados para celebrações e casamentos, mantendo a coesão da comunidade.

Um dos barcos mais fascinantes eram os barcos 'Saan Ka' (曬家船). Eram barcaças sem motor que serviam tanto de casa como de oficina. Nos seus conveses, os pescadores secavam lulas e peixe salgado, um ofício que definia a economia do porto mas que hoje está quase extinto.

Jóia Escondida: Embora a cidade flutuante tenha desaparecido, os seus fantasmas permanecem. Desafie o seu condutor de sampana a encontrar o último guardião de uma arte perdida: o único barco 'Saan Ka' que ainda teima em secar peixe ao sol. É uma caça ao tesouro por um património vivo. Depois, procure os vendedores que ainda servem noodles de barco (艇仔粉) nas águas do porto. São o último legado gastronómico desta era vibrante, um sabor de um mundo perdido.

Piratas, Perfume e o Nascimento de um Nome

O nome poético de Hong Kong, "Porto Perfumado" (香江), tem as suas raízes aqui. Uma lenda conta que o nome provém de um riacho de água doce que desaguava no mar, provavelmente na Baía da Cascata, um ponto de reabastecimento vital para os navios nos tempos da navegação à vela. Mas há outra camada nesta história: o "perfume" pode também ter vindo do comércio de madeira de incenso (莞香貿易), que passava por este porto, ligando-o a uma vasta rede económica regional.

Esta imagem perfumada tem um contraponto sombrio e selvagem. No início do século XIX, as mesmas enseadas e grutas que tornavam a costa útil para os comerciantes também a tornavam perfeita para os piratas. O mais famoso de todos, Cheung Po Tsai (張保仔), usava esta área como esconderijo e base de operações para a sua temível frota. Mas como podia um porto ser simultaneamente um refúgio para o comércio e um covil para quem o pilhava? A geografia única do porto moldou estas duas narrativas coexistentes, o eterno duelo entre a civilização e a anarquia nas águas do Mar do Sul da China.

Jóia Escondida: Para se conectar com esta história dupla, comece a sua investigação na Baía da Cascata (瀑布灣), o local físico onde a lenda do "Porto Perfumado" nasceu. Depois, liberte o seu lado aventureiro e explore a costa de Ap Lei Chau. O folclore local afirma que as grutas marinhas da ilha ainda escondem os tesouros perdidos do pirata Cheung Po Tsai.

O Chefe do Tempo e a Protetora das Viagens: A Fé dos Pescadores

Para uma comunidade cuja vida e morte dependiam do mar, a fé era uma bússola essencial. No Templo de Hung Shing, em Ap Lei Chau, encontramos uma fascinante visão do mundo espiritual dos pescadores, marcada por uma precisa "divisão de trabalho" divina.

Segundo a crença local, as duas principais divindades marítimas tinham papéis distintos e complementares:

  • Hung Shing (洪聖): Era o deus do "mar próximo" e do "tempo". A sua função era proteger os pescadores que trabalhavam nas águas costeiras, guardando-os das tempestades súbitas e imprevisíveis.
  • Tin Hau (Mazu): Era a deusa das "viagens em alto mar", invocada para travessias longas e perigosas.

Esta divisão, longe de ser aleatória, é um espelho notável da mentalidade pragmática e da avaliação de riscos dos pescadores. Como a maioria pescava perto da costa, um deus que controlava o tempo local era de importância vital. Mas o papel de Hung Shing não terminava na linha da costa; ele era também o guardião da comunidade em terra, responsável por "驅邪鎮煞" (expelir os maus espíritos e suprimir as forças malévolas). A antiga tradição de lhe rezar por filhos — para garantir mão de obra — praticamente desapareceu, mas a sua proteção permanece central.

Jóia Escondida: O Templo de Hung Shing (洪聖廟) em Ap Lei Chau é um portal para esta história de fé. Para uma experiência verdadeiramente imersiva, planeie a sua visita durante o Festival de Hung Shing, realizado anualmente no dia 13 do segundo mês lunar. Este evento, reconhecido como património imaterial de Hong Kong, é uma celebração vibrante da profunda reverência da comunidade pelo mar.

Cascos de Aço Contra Iates de Luxo: A Batalha Silenciosa pela Alma do Porto

É fácil cair na narrativa romântica de que a pesca é uma "indústria em declínio". A realidade é muito mais complexa. A pesca em Hong Kong não morreu; transformou-se numa indústria de alta tecnologia e capital intensivo. O melhor exemplo são os novos arrastões de casco de aço (鐵殼雙拖漁船). Um par destes navios de ponta custa cerca de 30 milhões de dólares de Hong Kong.

Esta modernização criou uma paisagem visualmente chocante e socialmente carregada. Hoje, no porto, estes gigantescos barcos de trabalho partilham as águas com inúmeros iates de luxo. Os pescadores mais velhos lamentam que agora há "mais iates do que barcos de pesca". Esta justaposição é um espelho do conflito pelo espaço, onde os barcos de trabalho coexistem desconfortavelmente com símbolos de riqueza. Os "atritos" surgem das diferentes rotinas: o ciclo industrial de 24 horas por dia dos pescadores colide com os hábitos de lazer de fim de semana dos proprietários de iates.

Jóia Escondida: A jóia aqui é uma "viagem de observação social". Vá até à zona onde os cais dos iates se encontram com os ancoradouros dos arrastões de aço e observe. Este contraste é uma das formas mais poderosas de compreender a transformação de Hong Kong. Perto dali, os estaleiros tradicionais enfrentam uma crise de sucessão, levantando o paradoxo filosófico do "Navio de Teseu": quando todas as peças de um barco são substituídas, continua a ser o mesmo barco? É uma metáfora para a própria alma de Aberdeen.

A Alma de um Porto em Transformação

As cinco histórias que explorámos revelam que Aberdeen é muito mais do que um porto pitoresco. É um arquivo vivo da identidade de Hong Kong — da luta dos Tanka pela cidadania à fé pragmática dos seus marinheiros, da lenda dos piratas à complexa realidade da sua modernização.

Isto leva-nos à reflexão final, inspirada na metáfora do "Navio de Teseu". A questão não é apenas se o porto que vemos hoje ainda possui a mesma alma do de outrora. A questão mais profunda é sobre a nossa responsabilidade como observadores. Temos de resistir à tentação de deixar que a comunidade piscatória se torne apenas um "pano de fundo para a curiosidade alheia".

Quando os iates superam em número os barcos de pesca e os ofícios antigos desaparecem, que história estamos a escolher preservar? Deixamos-lhe esta questão para ponderar na sua próxima visita, enquanto observa as águas que guardam tantos segredos.

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